Tradução: Ânderson Arcanjo
Um dos principais acontecimentos durante a minha residência é a Vesperata, um evento musical em Diamantina que é realizado em sábados alternados de abril a outubro, com 16 edições por ano. Uma tradição musical profundamente enraizada na cultura de Diamantina, as apresentações são realizados na Rua da Quitanda, onde os músicos se apresentam nas sacadas das casas, enquanto o público assiste do meio da rua.
Ao ver essas fotos e tomar conhecimento da estrutura de apresentação da Vesperata, o que me atraiu de imediato foi o elemento arquitetônico único desse espetáculo.
Como me foi dada a oportunidade de compor uma nova peça para a Vesperata, a ser executada pela Banda Mirim Antônio de Carvalho Cruz e pela Banda do 3º Batalhão da Polícia Militar (juntamente com meu solo de violino), recebi este diagrama com as posições dos músicos:
À medida que eu ia juntando algumas ideias para a minha peça, meus questionamentos eram:
-Como posso usar essa estrutura de forma eficaz?
-Que novos elementos, que eu ainda não explorei, posso incorporar na minha música?
-Como posso, de maneira concreta, fazer o equilíbrio entre o violino e as bandas nesta estrutura?
Considerando que a minha parte do violino teria que ser filmada antes da apresentação da Vesperata e deveria ser juntada com as bandas de forma remota, havia alguns pontos logísticos que eu tinha que levar em consideração. O principal era a necessidade de uma faixa de clique (metrônomo). Mas esse foi certamente um novo jeito e um interessante processo de composição e, de certa forma, essas restrições me guiaram em uma nova direção. Portanto, a fim de criar um tema semelhante a um ostinato, que continuasse ao longo da peça, decidi explorar ritmos da música brasileira, que se tornaram, então, os motivos principais (vou escrever mais sobre isso depois!)
Ontem participei de uma reunião na qual pude conhecer cerca de 33 músicos da Banda Mirim de Diamantina, que vão tocar a minha peça. Para esses jovens músicos (com idades entre 11 e 20 anos), a Vesperata é uma tradição musical com a qual eles cresceram. Estou ansiosa para trabalhar com eles nas próximas semanas!
Graças ao Ânderson Arcanjo, o fantástico tradutor-intérprete em Diamantina que está interpretando e traduzindo tudo para mim durante essa residência, essa comunicação entre as línguas portuguesa e inglesa está funcionando perfeitamente. (Eu queria tanto saber falar português!)
Em uma de nossas conversas, o Ânderson mencionou que alguém uma vez disse: “em Diamantina, toda casa de família tem um músico ou um poeta”.
Quanto mais eu descubro sobre as tradições diamantinenses, mais fica evidente para mim que a música é, sem dúvida, parte integrante da história e do dia a dia de Diamantina.
Amanhã vou me aprofundar ainda mais na história e nos gêneros musicais brasileiros na conversa que vou ter com o especialista e pesquisador musical diamantinense Wander Conceição.
Tradução: Ânderson Arcanjo